“(...) Não há amanhã sem projeto, sem sonho, sem utopia, sem esperança, sem o trabalho de criação e desenvolvimento de possibilidades que viabilizem a sua concretização. O meu discurso em favor do sonho, da utopia,da liberdade, da democracia é o discurso de quem recusa a acomodação e não deixa morrer em si o gosto de ser gente, que o fatalismo deteriora" (Paulo Freire)
quinta-feira, 14 de maio de 2009
“Era de madrugada, sem sono e com calor levantei, fui ao banheiro e depois liguei a TV. Trocando de canal encontrei um programa estranho: um homem de terno preto, livro na mão e cruz no peito lutava contra uma mulher simples, ela estava em prantos. Segundo ele, ela estava possuída por um demônio. Para se libertar ela deveria renunciar sua crença, e confessar a fé no deus do exorcista”.
Não sei por que, mas todas as tribos humanas em algum momento manifestaram uma crença religiosa. Para muitos, esta religião foi à fonte de integração social e desenvolvimento do conhecimento. O que não consigo entender é porque tanta gente acusa a outra religião de ser má e errada e há tantos conflitos religiosos.
Quando eu nasci, fui batizado e me tornei católico. Ninguém me perguntou se gostaria de sê-lo, apenas fui doutrinado nesta crença. Poderiam me dizer que depois de certa idade sou livre para continuar praticando ou não. Entretanto, ninguém se importa com tudo que foi incutido em mim: o trauma do pecado e da culpa, a obrigação de ser um bom menino, a custa de padecer no fogo eterno etc. Pensando bem, acho que não sou tão livre assim. Ainda que não queira mais esta prática, seu resíduo ficou em mim; esta grudado em meu corpo e mente como uma simbiose, e por mais que me esforço não consigo tirar. Sofro sanções por acreditar; sofro sanções por não acreditar.
Fico pensando em quanta gente não daria sua vida por sua religião. Isso é bonito e romântico; também gostaria de dar minha vida por uma causa justa. O que é difícil pra mim é saber por que tantos crimes foram e ainda são cometidos em nome dela. Os cristão, a exemplo de Jesus Cristo, o fundador, foram, no cristianismo antigo, perseguidos, queimados nas fogueiras ou no óleo quente, devorado pelas feras, torturados e mortos na cruz – diz a tradição que São Pedro pediu para ser crucificado de ponta cabeça, por se julgar indigno de morrer como seu mestre. O paradoxal é que no fim da Idade Média os mesmos cristãos perseguiram os que julgavam hereges e queimaram as bruxas na fogueira santa. Eles apenas se esqueceram que os hereges queimados do passado eram eles.
A colonização americana é emblemática para esta situação. , juntamente com os colonizadores europeus vieram para missionários recrutar novas ovelhas para a grei do Vaticano. Os ameríndios estavam historicamente em um estágio de desenvolvimento infinitamente inferior ao deles. Poderosos, os europeus aqui chegaram e já demarcaram território, fincaram sua cruz e rezaram a primeira missa. O contraditório, é que a missa é tida como atualização redentora do sacrifício de cristo, porem eles esqueceram de avisar os nativos que para salvá-los deveriam destruir sua cultura, sua organização social e política. Também não avisaram que o território deles agora seria propriedade dos europeus, e que talvez precisassem trabalhar de graça para o povo estrangeiro. De graça não, em troca de catequese, olha que bem!
Esse texto objetiva apenas elucidar que a intolerância e incompreensão religiosa foram e ainda são danosos a humanidade. Sem mencionar a aparição dos homens bombas do islã, gostaria de ressaltar a necessidade de uma nova postura frente à religião. Nada me impede que acredite em que quiser, mas isto não me dá o direito de sair por ai explodindo hospitais, perseguindo prostitutas, homossexuais ou ateus, nem tampouco “domesticando índios”. É chegado o momento de realizarmos a emancipação do preconceito e da intolerância religiosa. Nada comprova que minha fé seja mais verdadeira que a tua. Portanto precisamos relativizar o processo religioso, buscando desmontar os imperativos violentos, agressivos etnocêntricos de nossa fé e sabermos os limites de nossas crenças.
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