quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Selva Rolante

Recentemente tomei uma decisão drástica em minha vida. Deixei a moto em casa, adquiri uma bicicleta e passei a percorrer o trajeto de minha casa ao trabalho com a magrela. Nunca imaginei que esta decisão marcaria tanto minha vida. Meu motivo para tal decisão foi a necessidade de desenvolver alguma atividade física, na dificuldade com tempo para praticar esporte, resolvi percorrer os aproximadamente 7 km de byke.
Entretanto, bem mais do que exercitar meu corpo, transitar de bicicleta tem confirmado uma suspeita antiga. Penso que o transito é um lugar privilegiado para o ser humano, especialmente do sexo masculino, liberar todo seu estresse e violência instintiva. As vias são espaço para competição e concorrência constante. Basta para isso ver a posição de alguém que sofre uma ultrapassagem. É doído ser ultrapassado. É Como se o motorista estivesse sendo derrotado, é necessário revidar, sobretudo se o veículo concorrente for inferior. Isso em parte explica a agressividade no trânsito. Outra forma de manifestar a competição é a imposição da força do mais forte. Caminhões sobressaem sobre carros baixos, estes sobre as motocicletas, seguidos por ciclistas e finalmente pedestres. Há uma espécie de cadeia alimentar em que o maior engole o menor.
Sem dúvida, nosso trânsito seria menos violente se fossemos mais racionais. Mas não. Temos que correr, correr mais que o outro, ser melhor que outro, ter o carro melhor, com o melhor arranque, maior velocidade final, o motor mais potente. O mesmo se diga para motos e outros veículos. E, infelizmente, quem paga o pato por tamanha prepotência são ciclistas e pedestres.
Hoje, quando retornava do trabalho, dividindo o espaço com os demais veículos, pressionados por ônibus e caminhões a refugiar-me na calçada, onde por sinal não há uma via para ciclistas, presenciei um fato cômico, e quase trágico. Um carro estava saindo de um estacionamento, enquanto vinha um ciclista a minha frente. O motorista entrou na frente no ciclista e contornou no estacionamento ao lado. Magicamente, o garoto foi capaz de fazer a mesma curva, com a mesma velocidade e escapar do acidente; talvez, se não fosse sua percepção e agilidade, agora estaria num hospital, para descartarmos a necessidade de acionar o prever.
Infelizmente nosso trânsito é assim. O que sinto é que nele revelamos todos nossos instintos mais selvagens e emulativos. O poder de dirigir um veículo nos eleva, nos faz pretender sermos maiores que os demais, o orgulho nos invade e achamos que nada pode nos parar, ate que encontramos outro que pensa a mesma coisa, quando isso acontece geralmente a conclusão é trágica.

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