“Prefiro as lágrimas por não ter vencido, do que a vergonha por não ter lutado”
Umas das tarefas fundamentais de um professor é a reflexão crítica (me desculpem a redundância) constante de sua prática pedagógica. Isso é práxis. É necessário estar em constante questionamento das escolhas teóricas, pedagógicas e práticas. Entendo que esta é um dos fundamentos da excelência na arte de ensinar.
Às vezes cometemos erros. Não são apenas os professores autoritários que erram. Os democráticos também erram. Mas fico pensando, prefiro errar por excesso de zelo a errar por prejudicar alguém, por ser intransigente, duro, incapaz de dialogar com o aluno. Obviamente, isso requer admitir e corrigir o erro, caso raro entre os que gozam de algum tipo de poder.
Escolhi ser professor, e essa opção foi livre e desejada. Eu posso dizer que realmente escolhi ser professor. Entre as possibilidades que se colocaram pra mim no momento da minha decisão profissional, todas que me cativaram estavam relacionadas à prática docente. Entre elas optei pela licenciatura em Ciências Sociais, onde me sinto totalmente realizado tanto do ponto de vista da pesquisa e da produção científica, quanto do ponto de vista da docência.
Penso que me formei professor para compartilhar, para somar. Em outras palavras, não me formei professor para vigiar, fiscalizar, punir ou torturar ninguém. Não sou rígido apenas porque não consigo. Mas porque não quero. Porque optei por não sê-lo.
Optei por fazer de minha sala de aula um espaço de construção intelectual e humano. Obviamente, nem sempre acertamos na dose dessa ação. Mas essencialmente minha prática se pauta pela aposta na construção de um sujeito estudante autônomo, e a única forma de o professor colaborar pra isso é conferido autonomia a ele. Não se ensina a democracia, a igualdade e liberdade se não as praticando.
Nessa perspectiva não apenas o momento de exposição monológica do conteúdo é pedagógico. É igualmente pedagógica a maneira como o professor de se porta diante do conhecimento e diante dos alunos. Nessa perspectiva até mesmo a roupa que o docente usa cumpre uma função educativa. Não se ensina apenas com doutrina, se ensina com gestos, comportamentos, sorrisos. Da mesma forma, as fugas do conteúdo, as perguntas mais bobas e as brincadeiras são consideradas relevantes e dignas de serem problematizadas.
Enfim, o papel do professor é mediar a compreensão do texto. Para tanto vale o melhor contexto (por favor, releve a rima pobre). Assim, a nota, o ranqueamento e toda forma de classificação quantitativa é relegada a um segundo plano. A nota da “prova” não reflete, de fato, o que o aluno aprendeu. Aliás, a própria avaliação é um momento formativo fundamental para a construção do conhecimento. Quando se erra na prova, se acerta na vida. Com efeito, uma atitude espontânea do estudante é indagar o professor, onde errou e porque errou. Essa busca o faz notar o erro, corrigi-lo e enraizar a compreensão correta em seu sistema cognitivo.
Neste sentido, a prática docente assume contornos agonísticos, é um refletir e refazer constante, que, no entanto, não é cíclico, nem linear, mas pode ser espiral, pois os processos de teses e antíteses resultam em novas sínteses, que por sua vez desembocam em novas teses e assim por diante. Desse modo, entendo que só o professor que ousa não ficar no lugar comum pode avançar no aprimoramento de sua prática e na potencialização do repertório intelectual e humano de seus alunos. Afinal, o maior ensinamento deste mestre não é a doutrina consagrada, mas os caminhos para a busca do conhecimento indicados por sua ação. Assim, repito, prefiro errar por ser democrático a errar por ser autoritário.
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